Mizuchi, visual novel desenvolvida pelo estúdio Aikasa Collective, é uma obra que mistura romance, fantasia e mitologia, tudo envolto em uma atmosfera de conto de fadas com forte inspiração na lenda chinesa da Serpente Branca. Disponível para todos os consoles atuais, o jogo traz uma história do gênero Yuri, que foca no romance entre personagens femininas.
Três mulheres, uma jornada de cura

A trama gira em torno de Linh, uma jovem camponesa que, após ser falsamente acusada de adultério, é condenada a um destino cruel: ser jogada em um poço de serpentes. Em seu momento de maior desespero, ela encontra Ai, uma deusa serpente misteriosa que lhe oferece uma saída — mas a um custo. Essa aliança inesperada coloca Linh em uma jornada onde ela descobrirá mais sobre o mundo, sobre si mesma e sobre o que significa confiar e amar novamente.
Acompanhando essa dupla improvável, está Jinhai, uma monja errante que traz uma perspectiva equilibrada e reflexiva, funcionando como uma ponte entre os mundos da espiritualidade e da realidade. Juntas, essas três mulheres constroem uma história rica em sentimentos e crescimento pessoal, onde cada escolha do jogador influencia os laços entre elas e os rumos da narrativa.
O grande destaque de Mizuchi é como a visual novel consegue te colocar dentro da mente de Linh. Você sente suas dúvidas, medos e desejos com uma honestidade quase desconcertante. É uma narrativa carregada de emoção, com momentos de felicidade sincera e outros de partir o coração. A dinâmica entre romance, amizade e família encontrada aqui é raríssima de se ver executada com tanta sensibilidade.
Romance e Representatividade

Sendo uma visual novel yuri, o romance é um pilar central de Mizuchi, mas o jogo vai além do romance tradicional. A amizade entre Linh e Jinhai é tão importante quanto suas possíveis conexões românticas com Ai. Esse equilíbrio é algo que muitas histórias de amor negligenciam, e aqui ele é tratado com o cuidado e a profundidade que merece.
O romance é slow burn, construído com paciência e atenção aos detalhes. As cenas íntimas — desde simples conversas até beijos e momentos de vulnerabilidade — são cheias de carinho e autenticidade. Há uma quantidade surpreendente de carinho físico no jogo (como head pats e mãos dadas), e cada gesto tem um peso emocional real. É o tipo de história que faz você torcer pelas personagens de forma sincera, porque você se importa com elas.
Sistema e Escolhas
Como toda visual novel, Mizuchi é movido por suas escolhas. Existem momentos onde suas decisões afetam diretamente os relacionamentos e o desfecho da história. São cinco finais no total, que variam de reconfortantes “felizes para sempre” até conclusões mais amargas e tristes. Curiosamente, são justamente esses finais mais tristes que tornam os bons finais ainda mais tocantes — saber que a felicidade não era garantida deixa cada conquista emocional mais preciosa.
Magia e Mitologia
Mizuchi é profundamente ancorado em mitos e folclore, mas a magia aqui é deixada de forma intencionalmente vaga. Não espere um sistema de magia meticulosamente explicado como em um RPG — o jogo assume um tom mais místico e simbólico, onde o inexplicável tem seu próprio poder narrativo. Isso pode frustrar jogadores que gostam de entender a fundo cada mecânica sobrenatural, mas é uma escolha que se alinha bem à atmosfera de conto de fadas.
Destaque para Ai e suas transformações — em alguns momentos, ela assume formas poderosas e quase divinas, criando cenas com um impacto visual digno de mangás shounen. Essa fusão entre estética suave e explosões de ação é uma surpresa bem-vinda, que adiciona textura à narrativa.
Visual e Trilha Sonora

A arte de Mizuchi é lindíssima. Cada cenário, cada traje e cada expressão são cuidadosamente desenhados para reforçar a atmosfera mística e emocional da história. Os figurinos, em especial, merecem destaque — desde roupas tradicionais até peças cerimoniais, cada detalhe visual ajuda a mergulhar ainda mais nesse mundo.
A trilha sonora, assinada por Glim, é igualmente inspirada. Músicas delicadas ao piano se alternam com composições mais complexas, e efeitos sonoros sutis (como o farfalhar de tecidos ou o eco distante de um templo) ajudam a criar uma imersão quase tangível. A combinação de som e imagem transforma cada cena em algo memorável.
Humor e Personalidade

Surpreendentemente, Mizuchi não é apenas drama e romance. Existe uma boa dose de humor espalhado pela história, com direito a muito sarcasmo e tiradas ácidas — especialmente de Ai, que não perde uma oportunidade de insultar a humanidade com sua visão cínica. Esse humor dá um ritmo agradável à narrativa, aliviando o peso emocional em momentos certos.
Além disso, pequenos detalhes como a presença de uma galinha de estimação, ou as longas conversas sobre comida e cultura local, criam uma textura de mundo vivo que faz você querer permanecer ali só para aproveitar a companhia dessas personagens.
Conclusão
Mizuchi é uma visual novel yuri que entende que histórias de amor não são apenas sobre romance — são sobre aceitação, crescimento, cura e a construção de laços genuínos. Com uma narrativa cativante, personagens memoráveis e uma apresentação visual e sonora impecável, é uma obra que deixa marcas.
O ponto fraco fica pela a ausência de suporte à Português, o que é uma pena mas é muito comum em jogos do gênero por ser algo muito nichado. Isso faz com que joias como essa fiquem escondidas da maioria do público nacional.
Se você busca uma história rica em emoções, representatividade e uma releitura fascinante de uma lenda clássica, Mizuchi é uma escolha obrigatória. Mesmo com algumas arestas, é uma experiência que ficará com você muito depois dos créditos finais.
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