Alan Wake: Um escritor na escuridão

Logo do jogo Alan Wake

Com o iminente lançamento de Alan Wake 2, não podíamos deixar de falar sobre a importância do jogo original no cenário, relembrando a passagem da Remedy como desenvolvedora, destacando as grandes influências para os jogos da empresa e o quão desejado esse jogo foi até então.

Desta forma, preparamos esse especial sobre o universo expandido da Remedy, que será dividido em partes.

Uma produtora sob a luz

A Remedy, produtora de Alan Wake, tem um começo modesto: Em 1996, lançou um jogo chamado Death Rally, em 1996, para o MS-DOS. Esse início em um jogo mais arcade não nos prepararia para o que viria a seguir, cinco anos depois.

Logo da Remedy
Logo da Remedy. Imagem oficial.

Deixando de lado a modéstia, os finlandeses da produtora desenvolveram Max Payne (lançado em 2001 para Playstation 2, Xbox e PC), um jogo tão influente que ganhou até um filme homônimo com Mark Wahlberg, lançado em 2008, após já termos dois jogos da série lançados.

Claramente influenciado pelo efeito bullet time do filme Matrix (1999), Max Payne, o personagem principal, usa e abusa da câmera lenta para uma jogabilidade acrobática, muito acima da média dos shooters da época.

Não é difícil dizer que a produtora pequena havia sonhos grandes que, na época, eram apoiados pela Rockstar (sim, aquela de Grand Theft Auto), a detentora dos direitos da série até os dias de hoje (ela até lançou um terceiro sem a produtora finlandesa, que é um ótimo jogo, mas sem o sabor dos dois jogos originais, que eram envolvidos em um clima noire de uma Nova York sempre à noite).

Max Payne
Max Payne: tiros e acrobacias em clima noir. Imagem de metro.co.uk

Alan Wake, escritor

Depois de lançar dois jogos da franquia Max Payne com a Rockstar, a Remedy passou seus próximos sete anos desenvolvendo, agora em parceria com a Microsoft, um jogo exclusivo para Xbox 360 (posteriormente foi lançado no PC também). Um jogo que mudaria tudo o que era comum. Alguns, na época, até diziam que decretaria o fim de uma guerra de consoles envolvendo Microsoft e Sony (pelo segundo lugar da geração, afinal, a Nintendo já liderava com larga vantagem, com seu Wii).

Esse jogo era Alan Wake, um thriller de ação, mistério e horror cheio de influências da televisão e dos livros. Afinal, não é todo dia que se vê referências diretas a Stephen King em um jogo de videogame, ou a paródia de Twilight Zone no programa Night Springs no jogo.

Na pele (e na sombra) de um escritor com crise criativa, o jogador é levado à fictícia cidade interiorana de Bright Falls, onde estranhos fenômenos acontecem e Alan Wake se vê numa batalha entre a luz e a escuridão.

Alan Wake observa a si mesmo.
Alan Wake se observa na TV. O esquisito e sobrenatural está presente a todo momento no jogo. Imagem de @neto_btu

Um remaster iluminado

Quem teve a oportunidade de jogar Alan Wake em 2010, no ano de seu lançamento, pode se lembrar dos problemas. O jogo rodava sub-HD, ou seja, abaixo dos 720p, que eram os padrões da época. Para piorar, o jogo foi lançado pertinho de Red Dead Redemption, uma das obras primas da geração passada. A diferença de qualidade técnica era brutal. Nem por isso Alan Wake foi esquecido.

Onze anos depois, em 2021, a Remedy lançou seu remaster para os consoles mais atuais – e trouxe o jogo para o Playstation pela primeira vez. Depois de Control (que abordaremos em outro artigo deste especial), todos queriam voltar a jogar Alan Wake, ou jogá-lo pela primeira vez. Afinal de contas, o jogo revelava o universo expandido da desenvolvedora.

O remaster conserta muita coisa do jogo original, tudo fica mais bonito, mais vivo, a boca de Alan Wake para de se mover como a de uma marionete,, a iluminação continua ótima (que era o maior trunfo técnico do jogo anterior, o jogo de luzes e sombras era impressionante). Finalmente, Alan Wake, mesmo mais de uma década depois, encontra sua melhor forma.

Alan, acorde

Em Alan Wake, encaramos inimigos possuídos por uma Presença Escura (Dark Presence). Esses inimigos, ensandecidos e com sede de sangue, não vão parar enquanto não verem Alan no chão. Por serem cidadãos comuns da cidade rural de Bright Falls, suas armas são objetos de trabalho, como facões, podões e afins. Felizmente, o protagonista está equipado de armas de fogo e de qualquer objeto possível de fazer luz. Em especial, lanternas.

O núcleo de jogabilidade de Alan Wake envolve alternar o feixe de luz com a saraivada de balas para cima dos inimigos. Essa mecânica é bastante satisfatória, em especial devido à sensação de dar os tiros, já que o impacto sobre os inimigos, depois que a luz os deixa vulneráveis, é alto. Melhor ainda é acertar um tiro de pistola sinalizadora, que explode geral em uma explosão de luz.

Infelizmente, Alan Wake não possui o melhor dos designs de nível e muitas vezes o posicionamento dos inimigos deixa a desejar, tornando tudo mais complicado do que deveria. E em nenhum momento o jogo faz isso na tentativa de dar desespero ao jogador. O design de nível é ruim em grande parte do jogo.

Alan Wake atravessa uma ponte.
Alan Wake está sempre se emaranhando em meio a florestas e penhascos. Imagem de @neto_btu

O Poeta e a Musa

Há que se entender, no entanto, que Alan Wake, apesar de não possuir a melhor das jogabilidades, possui outros atrativos. Como já dito acima, o jogo busca inspirações nos filmes, nos livros e na TV. Oras, está sendo retratado um escritor como protagonista, o que já é bastante fora do comum.

Corvos remetendo a Hitchcock. Um cenário que remete a Twin Peaks. Um seriado de TV com episódios completos para serem assistidos, parodiando Twilight Zone. Referências a Stephen King. Um formato episódico que se assemelha a uma série de TV. Tudo isso contribui para um mergulho completo em Bright Falls e no drama de Alan Wake contra a Presença Escura, e é nesse ponto que a Remedy se diferencia de muitas desenvolvedoras: ela sabe prender seus jogadores, por mais problemático que Alan Wake fosse em 2010 (e agora está muito melhor desde 2021).

Outro ponto interessante é a banda Old Gods of Asgard, um alter ego da banda finlandesa Poets of the Fall, presente no jogo. Chave para a conclusão da história, os músicos doidos da banda contribuem com duas músicas muito boas, uma delas em um dos melhores momentos do jogo, com um heavy metal que encoraja o jogador. A outra música, uma balada, chamada The Poet and the Muse, aparece como necessária para o prosseguimento da história. Vale à pena ouvir a discografia de Old Gods of Asgard, presente no Spotify. E fica também a indicação de Poets of the Fall, que ficaram famosos com Carnival of Rust.

O Escritor e a Escuridão

Alan Wake trata de temas mundanos, como uma crise em um casamento ou o bloqueio criativo de um escritor, mas também do sobrenatural, em especial do medo do escuro, que aqui toma forma e ataca o jogador. A luz é imprescindível no jogo.

Esse sobrenatural, posteriormente, terá outro nome: paranatural. Só que somente descobrimos essa palavra em 2019, quando Control foi lançado, oito anos depois. Já existiam pistas, porém, sem o jogo lançado, nada significavam.

O paranatural, no entanto, fica para o próximo artigo.

Alan Wake chega a Bright Falls
Bright Falls: pacata cidade interiorana de dia, aterrorizante à noite. Imagem de @neto_btu

Professor de História / Jogador de videogame nas horas vagas / Escritor de textões pela internet
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