Minha relação com a série Armored Core é peculiar. Meu primeiro contato ocorreu através de um disco de demos do PS1, que acompanhou meu console por volta de 1998. Nele, havia uma demo do jogo original com duas fases: uma em ambiente aberto e outra em local mais restrito. Era o suficiente para entender o conceito: batalhas entre mechas em cenários expansivos e verticais.
Avançando no tempo, após o sucesso estrondoso de Demon’s Souls e principalmente Dark Souls, a From Software, que antes se dedicava a títulos de nicho como King’s Field, consolidou-se como um dos maiores e mais influentes estúdios da década.
Em 2022, quando “Fires of Rubicon” foi anunciado, minha ansiedade disparou. Um trailer repleto do estilo e mistério característicos da From Software me motivou a revisitar os jogos da série, começando pelo primeiro título, cujo meu único contato havia sido aquela demo mencionada.
Ao revisitar os títulos mais aclamados da franquia, percebi que, embora “Fires of Rubicon” seja um jogo independente sem conexões com os anteriores, o DNA da From Software permaneceu intacto: builds complexas, bosses desafiadores e aquela dificuldade intrínseca que nos leva a repetir fases diversas vezes, seja pela complexidade ou para adquirir algum item esquecido.
Não é um Souls
“Armored Core VI: Fires of Rubicon” não é um “Souls” ou “Soulslike”. Ele mantém o padrão de gameplay do primeiro Armored Core. Considero essa escolha audaciosa, visto que, apesar de Armored Core ter sido uma das maiores franquias da From Software antes do estouro de Dark Souls, eles optaram por manter a originalidade em relação à jogabilidade.
Ainda assim, existem influências notáveis, como a barra de “stagger”, que lembra a dinâmica de “Sekiro: Shadows Die Twice”. Conforme causamos dano continuado, essa barra se preenche e, ao atingir o limite, deixa o adversário vulnerável a ataques mais poderosos. O mesmo mecanismo se aplica ao jogador, tornando o combate mais estratégico.
Por se manter fiel a essência de Armored Core, espere por diferentes tipos de jogabilidade o tempo todo. Em um jogo Souls você normalmente sabe que está fora do nível em uma determinada área pela quantidade de dano que você consegue tomar, se um boss ou algum inimigo te mata com um hit, significa que não é a hora de explorar esse lugar. Em Armored Core cada peça pode ser a chave do sucesso ou de sua derrota, é um jogo sobre experimentação e o jogo te incentiva isso o tempo todo, seja através de desafios em fases anteriores através de treinamento.
Uma casa de boMechas
A customização é central em “Armored Core 6”. Espera-se que o jogador invista tempo na garagem, ponderando se deve atualizar ou trocar componentes do mecha. As peças vão de simples a complexas, exigindo atenção aos detalhes, como peso, capacidade de munição e defesa.
Algumas fazes e inimigos dependem de robôs expecíficos para serem combatidos de igual para igual, por isso é importante ficar sempre atento ao peso, em quantidade de tiros que sua arma pode dar até recarregar, enquanto estiver recarregando talvez seja importante ter algo para se defender então instale um escudo, ou se você prefere se movimentar mais, instale uma espada mais poderosa no braço esquerdo para lidar com inimigos em curto alcance.
621 temos um trabalho para você
Armored Core 6 nos leva ao cenário pós-apocalíptico de Rubicon, um planeta que sofreu com uma catástrofe colossal. No passado, a humanidade encontrou o Coral: uma preciosa fonte de energia condutiva que também possibilitava a transferência de fluxos de dados. Isso desencadeou uma era dourada de avanços tecnológicos, até que uma explosão catastrófica provocada pelo Coral acumulado devastou Rubicon, afetando até mesmo outros corpos celestes em seu sistema estelar. Esse evento cataclísmico foi nomeado de Fires of Ibis.
Porém, cinquenta anos após a tragédia, corporações detectaram vestígios de Coral emergindo novamente em Rubicon. Com essa descoberta, uma verdadeira corrida pelo ouro começou. As corporações se apressaram em busca do valioso Coral, dando espaço para a nossa protagonista entrar em cena: uma mercenária humana aprimorada, identificada apenas como 621, acompanhada por seu coordenador, Walter. Ambos desembarcam no planeta com o objetivo de se beneficiar desse caos.
Surpreendentemente, Armored Core 6 oferece uma narrativa envolvente, porém no padrão From Software, muita coisa só é revelada lendo e prestando atenção em detalhes, conversas e descrições de equipamentos. A jornada introduz a interação com pilotos e coordenadores aliados e rivais, explorando a complexidade política, traições e conflitos entre as corporações e suas unidades militares privadas. Ao final, percebi que o jogo vai além da simples construção e batalhas com mechs; ele se aprofunda na essência humana e nas ambições desmedidas de um universo em ruínas.
Fora da curva
Em time que está ganhando não se mexe, porém no caso da From Software é refrescante ver a desenvolvedora explorar algo distinto, especialmente quando muitos tentam replicar sua fórmula, de maneira sutil ou até óbvia como Lies of P. “Armored Core 6”, em minha visão, apresenta altos e baixos, especialmente na dificuldade variável das fases. Contudo, entender que este não é um título Souls, mas sim um retorno às raízes de “Armored Core”, faz toda a diferença na apreciação do jogo.
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