A Konami tem feito movimentos estratégicos para revitalizar sua principal franquia de survival horror, em 2022 durante uma apresentação focada na saga, foram anunciados diversos projetos cada um deles na mão de diferentes desenvolvedores, ocidentais e orientais.
Gosto de destacar o fato de Silent Hill ter passado por dificuldades em tempos recentes muito pelo fato da Konami decidir terceirizar a franquia na mão de estúdios ocidentais. Desde que a Team Silent foi desfeita, a franquia passou por mudanças de tom substanciais, na minha visão pelo simples motivo de que o horror ocidental ser completamente diferente do horror oriental. Silent Hill: Homecoming, Silent Hill: Downpour e até mesmo Silent Hill: Origins são exemplos claros dessa mudança e o que ainda fez piorar o cenário foi o sucesso do primeiro filme e também do segundo jogo que a maior parte do público considera como o melhor da franquia. Isso fez com que muitos no ocidente associassem a imagem do Pyramid Head como o principal ícone da saga assim como a tentativa de emular o sentimento por trás do Silent Hill 2, acredito que Silent Hill Homecoming seja a mais clara tentativa falha de atingir isso.
A revolução do P.T.
Então tivemos o curto e enlouquecedor sucesso de P.T. o pequeno jogo/preview com envolvimento de Hideo Kojima quebrou a internet em 2014, a experiência foi incrível e parecia que a Konami finalmente iria trazer de volta o sentimento de terror psicológico que fez a franquia se destacar. Hideo Kojima, Junji Ito e Guillermo del Toro juntos em um projeto de Silent Hill parecia ser um sonho, até que tudo se desmontou, Kojima formou seu próprio estúdio o jogo foi cancelado e despublicado tornando P.T. uma experiência ainda mais lendária, influenciando uma geração inteira de jogos indies e triple A’s.
A Konami ainda está longe de acertar com a direção e escolha das desenvolvedoras para seus projetos, acho que nada fica mais claro em ver a diferença de recepção do Silent Hill: Ascension com o Silent Hill: The Short Message. O horror oriental está intrinsicamente ligado a franquia e deveriam manter dessa forma.
Um short game
Minha jornada em Silent Hill: The Short Message começou com um certo preconceito, vendo somente pelo trailer divulgado no State of Play me pareceu novamente que a Konami estaria tentando emular o sentimento do P.T. trazer uma experiência para que a comunidade desvendasse algum segredo, iniciei o jogo e já me dei de cara com uma trilha sonora bem característica dos tempos áureos da saga, então fui aos poucos deixando esse preconceito de lado.
Silent Hill: The Short Message conta uma história com começo, meio e fim. Anita é uma garota de 17 anos em um período conturbado da vida, sofreu bullying e carrega um sentimento de culpa por algo que o jogo vai revelando aos poucos, e a forma como isso vai acontecendo foi cada vez me conquistando. É um jogo com temas fortes princípalmente o suicídio, porém com mensagens sutis e simbólicas, o que me fez lembrar de alguns momentos de Silent Hill 2 porém o jogo foi levando isso de uma forma diferente o que me agradou ainda mais.
Apesar do nome, o jogo não se passa na cidade homônima e sim em um prédio de apartamentos localizado na Alemanha em que estão acontecendo muitos casos de suicídio com adolescentes. Algo que achei bem interessante foi o fato de alguns arquivos encontrados no caminho citar acontecimentos recentes como a pandemia do COVID-19 e como isso afetou a saúde mental de muitas pessoas. Existe uma ligação com os jogos antigos porém novamente é algo muito sutil o que me agradou demais. A sutileza é que tem que fazer parte desse tipo de jogo pois é com ela que as discussões acontecem.
Por ser uma experiência curta prefiro não entrar em detalhes em relação a história para não estragar a experiência, mas posso dizer que nesse sentido foi um ponto muito positivo, chega a ser bizarro comparar como essa tematica mais pesada é apresentada nesse jogo e de forma tão pobre em The Medium da Bloober Team.
O Labirinto Mental
O jogo é dividido em dois momentos, um mais de exploração em que os detalhes da vida da protagonista são revelados aos poucos com algumas falas, cutscenes, documentos e mensagens de texto no celular e o segundo momento é um jogo de perseguição entre uma criatura feita de Sakuras (flor de cerejeira) em um labirinto que vai ficando cada vez mais distorcido, no caso o famoso Otherworld que se molda de acordo com os traumas da protagonista. Achei que essa parte de perseguição poderia ter sido melhor dosada, pois alguns detalhes do cenário passam despercebidos devido ao desespero em fugir do monstro.
O jogo utiliza cutscenes em FMV de todos os personagens secundários, algo que me causou uma certa estranheza devido ao fato do idioma falado pelos atores e atrizes não ser inglês então o lypsync não estava correto, tentei até ver uma maneira de alterar o idioma do jogo porém não encontrei nada nos menus.
Gráficos não são tudo
Graficamente o jogo não impressiona, diferente de P.T. que até hoje é impressionante pela iluminação e modelagem fotorealística, Silent Hill: The Short Message em alguns momentos apresenta até algumas cenas de expressões faciais bem mal implementadas, porém acredito que isso não atrapalhe na experiência, nesse caso é algo que o jogo como um todo se sobrepõe as falhas técnicas. Lembrando ainda que é um jogo gratuito e segundo o diretor do jogo Motoi Okamoto esse é apenas o primeiro projeto do revival da franquia.
Uma esperança
Silent Hill: The Short Message é uma experiência muito interessante trazendo nomes classicos da franquia como Masahiro Ito e mostra que pelo menos alguém lá na Konami está preocupado em tomar decisões mais corretas para a franquia. É um jogo competente, muito melhor que muitos que tentatam emular P.T. em tempos recentes. Infelizmente não posso dizer o mesmo de Silent Hill 2 Remake que me parece ir na direção contrária de tudo o que falei, pelo menos temos um outro projeto bastante promissor anunciado que é o Silent Hill f.
Silent Hill: The Short Message está disponível gratuitamente para Playstation 5
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