Saviorless é lindo e é isso – Review

Saviorless emerge como um conto de determinação e criatividade, concebido pela equipe cubana da Empty Head Games. Anunciado em 2016 como o primeiro jogo independente oriundo de Cuba, sua trajetória até o lançamento enfrentou obstáculos dignos de uma epopeia: desde limitações de acesso à internet até dificuldades de financiamento exacerbadas por tensões políticas entre EUA e Cuba. Apesar dessas adversidades e da perda de um membro chave da equipe, o projeto avançou graças à paixão incansável dos desenvolvedores, culminando em seu lançamento para PC, Switch e PS5, oito anos após sua concepção.

Saviorless - arte

O maior destaque é a ambientação

Ambientado em um universo de fantasia sombria que inicialmente me lembrou bastante jogos como ICO além de arte 2D deslumbrante e ação lateral desafiadora, Saviorless conta a história de Antar, um jovem em busca de tornar-se um Salvador, protetor das enigmáticas Ilhas Sorridentes. O caminho de Antar é intrincado por personagens tortuosos e desafios ambientais, imerso em uma atmosfera surreal que confunde tanto quanto fascina. A narrativa, contada por um trio de narradores, dois dos quais em treinamento, entrelaça as ações de Antar com uma tapeçaria de eventos regidos por deuses atentos às regras de seu mundo.

A arte e a atmosfera de Saviorless são inquestionavelmente os pontos altos da experiência. A arte desenhada à mão e as animações trazem à vida um mundo vibrante e diversificado, com uma atenção aos detalhes que captura tanto a beleza quanto o grotesco de cada cenário e personagem. Inspirada em vitrais e iconografia religiosa, a estética do jogo é uma verdadeira maravilha artística que desafia expectativas com sua paleta de cores variada e interações ambientais que enriquecem a imersão.

O que o jogo não faz tão bem

A jogabilidade de Saviorless oscila entre a exploração sem armas de Antar e os breves, porém intensos, momentos de combate na pele de Nento, um caçador impiedoso com ambições obscuras. A simplicidade do combate, inicialmente um alívio, torna-se monótona à medida que o jogo avança, especialmente quando Antar ganha a capacidade temporária de transformação para enfrentar inimigos, uma mecânica que, embora introduza uma tensão satisfatória, é limitada pelo design e pela execução lineares.

Os desafios de jogabilidade, embora variados e muitas vezes inovadores, trazem consigo um aspecto de tentativa e erro que pode frustrar. As mecânicas introduzidas em cada novo nível e a necessidade de coletar notas para desbloquear os verdadeiros finais adicionam profundidade, mas também podem se tornar tediosas, especialmente diante da necessidade de repetir níveis inteiros por conta de um item perdido, sem a opção de seleção de nível para aliviar essa repetição.

Narrativa confusa

No entanto, a narrativa sonhadora e desconexa de Saviorless pode deixar os jogadores confusos e distantes. Antar, apesar de ser o protagonista, permanece um enigma, com motivações e conexões subdesenvolvidas que obscurecem mais do que revelam. Mesmo a intrincada relação entre Antar e Nento luta para encontrar um terreno sólido, deixando a história pendurada em um limbo de interpretação aberta.

Saviorless é, sem dúvida, um título que polarizará opiniões: por um lado, uma obra de arte visual e sonora que captura a imaginação; por outro, uma experiência de jogo que, embora única, pode não satisfazer a todos devido a escolhas narrativas e de design que privilegiam o estilo em detrimento da substância. Apesar dos seus desafios e da execução nem sempre polida, é uma viagem que vale a pena para aqueles dispostos a mergulhar em seu mundo peculiar e enfrentar suas enigmáticas profundezas.

Meus jogos favoritos são visual novels.
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