Coragem não é a falta de medo, é agir apenas dele.
– Mark Twain
Ao ser anunciado, a coisa que mais chamou atenção em Fort Solis foi seu elenco, que consistia apenas em Troy Baker, o famoso Joel de TLOU, entre outras dezenas de personagens; Roger Clark, o Arthur de Red Dead 2; e Julia Brown que é mais conhecida pelos filmes e séries que participou, sendo este o seu primeiro jogo.
Geralmente, um jogo para se promover, coloca em foco sua gameplay, história, entre outras coisas, mas no caso do Fort Solis, os três atores estão em destaque em qualquer que seja o tipo de apresentação. Bom, existe uma razão para isso, e após terminar Fort Solis, eu consigo dizer que realmente o foco neles fez sentido.
É um jogo de poucos personagens, mas cada um deles atua de forma muito satisfatória, estes três principalmente fazem um trabalho magnífico. Os personagens são totalmente críveis e a atuação destes atores é grande responsável por essa sensação que me foi passada. Por isto, decidi começar esta review falando sobre o ponto que mais me chamou tenção em todo o jogo: a escrita.
Um suspense de verdade
A história do jogo é em simples na teoria, onde Jack, personagem do Roger Clark está em marte a trabalho junto com a Jessica, interpretada pela Julia Brown. O jogo se passa em 2080 e a humanidade realiza diversas pesquisas em marte para uma futura colonização. Jack está no seu último dia de trabalho antes de suas férias, porém, um chamado de emergência é recebido vindo de uma base muito antiga no planeta: Fort Solis.
Jack então, parte a caminho da base para responder este pedido de ajuda. Ao chegar lá, tudo parece muito estranho, silencioso e vazio, a base estava em estado de lockdown, e então, precisamos entender o que estava acontecendo ali e quem havia pedido ajuda.
A história se desenvolve basicamente por meio de arquivos de áudio e vídeo de outros “tripulantes” de Fort Solis, além de arquivos de texto. Por meio deles, podemos conhecer mais cada um dos personagens, seus objetivos, personalidade e como estes fatores citados fazem com que eles entrem em conflito.
Para mim, este jogo é muito inovador por explorar este gênero de maneira bastante original se levarmos em consideração os jogos existentes no mercado. Porém, pode ser um ponto negativo para quem está acostumado com jogos survival horror cheio de momentos assustadores e ação.
Uma tensão bem construída
Fort Solis é um jogo que constrói toda a tensão por meio do silêncio, pouca coisa de fato acontece até que os momentos finais do jogo cheguem. Para quem sabe minimamente sobre cinema, sabe o poder que isso tem para dar um impacto de verdade, mas para aqueles que buscam apenas um joguinho, talvez este não seja para você.
O vilão do jogo é o Wyatt, vivido pelo Troy Baker, e é um personagem igualmente muito bem escrito, e que se torna ameaçador. Mas aqui está outro ponto muito bom do jogo e que também é diferente do que costumamos ver em outros jogos do gênero: Wyatt é um médico, não um monstro aterrorizante, e ainda assim é ameaçador pois seu psicológico é assustador. Suas atitudes são assustadoras, ao mesmo tempo que compreensíveis do seu ponto de vista, pois ele está fazendo por um bem maior.
Citei estes três atores principais, mas os atores secundários também cumprem muito bem seu papel de nos envolver naquele enredo. E nas quatro horas de jogo que tive, a tensão foi sendo criada do início ao fim até que no final, a recompensa fosse satisfatória e ela realmente foi.
Um terror psicológico dos bons
É um verdadeiro terror psicológico, que requer tempo para ser estabelecido e ao final, a recompensa de fato é satisfatória. Lembro do jogo Layers of Fear, o primeiro, que foi mais ou menos assim e que sim, foi muito bom. Porém, recebeu críticas por ser muito parado, cosa que foi mudando conforme o jogo foi tendo novos capítulos, mas a qualidade não se manteve tão alta.
Temo que este jogo também seja criticado por esta lentidão, coisa que, para mim, é o que faz a história se tornar de fato impactante. É uma pena que os jogos não possam explorar gêneros bem estabelecidos no cinema sem que sejam chamados de filminho de modo a depreciar a obra.
Para mim, em termos de desenvolvimento, é um jogo que se destaca muito, mesmo com a sua corta duração. Mas ele não é apenas isso. Além das atuações, da história muito bem escrita, outra coisa que cria todo o clima do jogo é o seu visual…
Gráficos igualmente de outro mundo
Todos esses elementos que citei acima são basicamente provenientes da escrita bem-produzida, mas o ganho visual e sonoro também é muito grande visto que o jogo investiu muito bem nisso.
Geralmente estes jogos menos, mais experimentais, costumam ter gráficos bem inferiores comparados a jogos AAA por exemplo. Uma comparação bem recente são os jogos da Telltale, o The Expanse por exemplo que está atualmente em processo de lançamento. Os jogos da Telltale são focados basicamente em Story Telling, assim como Fort Solis, porém, seu visual não chega nem perto do que encontramos aqui.
Os gráficos são definitivamente de nova geração, e tem razão de estar disponível apenas na PlayStation 5 e no PC. É claro que já vimos alguns milagres em termos gráficos como The Last of Us Par II e Red Dead Redemption 2 rodando na geração passada, mas são jogos de orçamento gigantescos e exceções também, pois acredito que não tenham outros jogos visualmente tão bons.
Um bom termo de comparação e o Detroit Become Human, que tem um estilo de jogo parecido, mas novamente, tem um orçamento bem maior, além de ser financiado pela própria PlayStation.
Modelagem impecável
Fort Solis apresenta uma modelagem de personagens e de cenários invejável, com texturas em uma resolução muito boa que torna tudo extremamente detalhado. Temos diversos cenários diferentes, cheios de pequenos detalhes que deixam tudo muito crível. E apesar de o jogo se passar inteiro em um mesmo ambiente, as variações de cenários são grandes o suficiente para fazer com que o jogo não se torne cansativo visualmente falando.
O uso da iluminação dos cenários e a iluminação proveniente dos próprios personagens também é muito boa, principalmente se levarmos em consideração questões como contraste. Joguei em uma TV OLED e o resultado em termos de contraste é absurdamente incrível. Algumas das fontes de luzes são menores, e com o uso do contraste, mesmo que pequena, a luz causa um impacto significante, que dá aquela sensação de “WOW!”.
Defeitos existem
Mas o jogo não é perfeito nesse sentido, apesar de muito bom. Os reflexos presentes no jogo não são dos melhores que já vi, na verdade eles pecam bastante nesse sentido. E a iluminação que é de fato muito boa, em alguns momentos parece não funcionar corretamente, dando uma sensação de “chiado” na imagem.
Alguns vidros transparentes não parecem funcionar muito bem e em determinados locais, as texturas não parecem carregar rápido o suficiente, tendo um momento que ela nem parece ter carregado, mas foi um momento bem isolado.
O jogo possui dois modos gráficos, um focado no desempenho e o outro na qualidade. Como de costume, escolhi utilizar o modo qualidade e em quase 100% do jogo, funcionou muito bem, tendo uma queda de frame ou outra.
Mas dito isso, todos estes pequenos pontos negativos são totalmente esquecidos pois os pontos positivos superam com folga estes pequenos problemas. Isso que nem falei das expressões faciais que são outro ponto positivo absurdo, muito bem modelado e detalhado. Os rostos estão em uma resolução que deixa tudo muito claro e bonito, eles de fato mandaram bem nesse sentido.
Uma trilha sonora de peso
Mas o que seria da tensão se não houvesse uma trilha sonora que tivesse o impacto suficiente? E bom, esse é mais um elemento em que o jogo é soberbo. A trilha sonora aqui é única e exclusivamente feita para criar o clima que o jogo precisa. Então não espere diversas músicas cheias de instrumentos como em outros jogos.
A trilha sonora aqui é quase que inteiramente sintética, isto é, não utiliza os instrumentos tradicionais de corda, sopro, percussão, etc. É tudo feito de forma digital, e é algo que funciona muito bem quando bem utilizado, como por exemplo em filmes como Garota Exemplar, A Rede Social, Sicario, entre outros, e aqui em Fort Solis, é tão bem utilizado quanto.
Mas a parte sonora vai além disso, pois os cenários emitem seus próprios sons como batidas, rangidos, ventanias, vapores, entre outros. E esses tipos de sons mais intrínsecos funcionam de forma igualmente boa e colaboram com a trilha sonora para criar um clima tenso do início ao fim. A parte audiovisual deste jogo é realmente um ponto em que o jogo vai muito bem.
Walking Simulator
Bom, em relação a jogabilidade, não se tem muito o que falar. Nós basicamente andamos de um lado para o outro da Fort Solis, abrindo portas, e interagindo com os objetos que encontramos no decorrer do jogo.
Temos um cenário dividido em alguns andares, do qual podemos explorar inteiramente, sem nenhum tipo de tela de carregamento. Porém, muitos locais são bloqueados inicialmente, e só podem ser explorados conforme avançamos na história. Sabe o leva e traz de itens que temos em Resident Evil, por exemplo? É mais ou menos assim.
Cada um dos cenários que passamos nos dão evidências da história, como alguns objetos que indicam algum acontecimento ou personalidade, documentos de texto etc. Muitos dos cenários possuem alguns computadores, do qual possuem alguns arquivos de texto em forma de e-mails e vídeos dos tripulantes.
Muita leitura!
Ler o que está escrito nestes e-mails e assistir os vídeos é essencial para o melhor entendimento da história. Ao ler e assistir estes arquivos, podemos revisitá-los por meio de nosso bracelete, chamado de multiferramente, que serve como um computador pessoal. Por meio dele, podemos ler os arquivos de texto, ver os vídeos e ouvir os áudios, todos estes em português.
Além disso, por meio do bracelete, podemos também acessar o mapa do jogo, que auxilia bastante na locomoção. Porém, o mapa é bem difícil de ser lido, acredito que de forma proposital, além de que o local em que ele se localiza é limitado em questão de espaço físico.
Todos estes elementos podem ser acessados sem precisar acessar nenhum tipo de menu. A tela sensível ao toque por exemplo, que é frequentemente utilizada para acessar o mapa, neste jogo é utilizada para entrar no modo foto.
O jogo possui algumas mecânicas e puzzles bem simples, tanto de forma a seguir a história quanto em momento opcionais, mas tudo é muito bem-feito em termos de design e em funcionamento. Mas todos são basicamente baseados em apertar os botões determinados na hora certa.
E o combate?
Em termos de combate, não temos nenhum em tempo real de fato, mas temos algumas cenas de ação. Estas cenas são puramente QTE (quick time event), que, novamente, consiste em apertar os botões na hora certa. A diferença aqui para os puzzles é que nos momentos de ação, os botões devem ser apertados com um limite de tempo que em grande parte dos momentos é bem curto. Além de que tem alguns “combos” mais elaborados.
A jogabilidade em Fort Solis é um ponto que parece que teve bem pouco investimento, o objetivo do jogo é de fato contar uma história, e a falta de variação na gameplay é um indicativo bem forte neste sentido.
Mas novamente, eu não vejo problema nisso. Ah, um ponto que não posso deixar de tocar é que o personagem se move em uma velocidade bem lenta do início ao fim do jogo. O que acaba sendo meio chato e faz com que a travessia nos cenários seja bem mais demorada do que necessário, porém, favorece bem as animações de movimentação do personagem, que como disse, é muito boa.
Fort Solis vale a pena?
Dito tudo isso, este jogo não é apenas um jogo e sim uma experiência cinematográfica, e agora, utilizarei a forma que o próprio jogo utiliza para se descrever. Ele diz que é:
“Uma experiência cinematográfica singular! A história é contada através de quatro capítulos. Como uma série de TV, Fort Solis pode ser concluído em uma única e intensa sessão, ou pode ser jogado capítulo por capítulo.”
Bom, se você é daqueles que dizem que alguns jogos são filminhos, então saiba que Fort Solis de fato é um, e que basta você pesquisar para saber que essa é de fato a proposta do jogo. E esta proposta ele cumpre com bastante êxito.
Aqueles que gostam de um bom filme, recomendo bastante, e aqueles que gostam de uma experiência diferenciada em termos de jogo, recomendo bastante também. Aproveitei cada um dos momentos que tive no jogo e foi de fato uma experiência bastante agradável.
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