Parece que algumas desenvolvedoras têm um histórico de mais acertos do que erros, e, sinceramente, não consigo lembrar da última vez que a Atlus e o time por trás da série Persona erraram.
Metaphor: ReFantazio segue aquela tendência curiosa dos jogos japoneses com nomes inusitados. Imagino como deve ter sido o brainstorming em que alguém sugeriu esse nome e ele foi aprovado. A estranheza, no entanto, vai além do título; o jogo se passa em um mundo de fantasia que ultrapassa os padrões do gênero, beirando o que poderíamos chamar de “alta fantasia”.
História e Temas
O reino de Euchronia, onde o jogo se passa, vive tempos turbulentos após o assassinato do rei e a maldição imposta sobre o príncipe. O protagonista, que é um Elda (raça marginalizada nesse mundo), precisa navegar por um cenário de intrigas políticas, tensões sociais e a ameaça de uma revolução. O jogo aborda temas como racismo, política e religião de uma maneira que ressoa com questões do mundo real, sem ser forçado ou didático.
Você, como jogador, assume um papel diferente: não é apenas o protagonista, mas também um escritor que guia o destino deste mundo. Metaphor nos convida a refletir sobre a nossa própria realidade, questionando como o nosso mundo, supostamente “justo”, pode parecer estranho comparado a esse universo de fantasia.
Outro ponto que o jogo levanta é a influência da religião na política. Durante sua jornada, o jogador encontra diferentes grupos e facções com perspectivas que espelham dilemas do mundo real, levantando questões sobre o poder da retórica, o papel da opinião pública e as consequências de uma revolução.
Arte e Estilo Visual
A direção de arte de Metaphor: ReFantazio é simplesmente deslumbrante. Cada detalhe visual é uma obra de arte em si, com cenários e personagens estilizados que superam até mesmo os altos padrões estabelecidos por Persona 5. O jogo demonstra claramente que não é preciso fidelidade gráfica ultrarrealista para criar uma experiência visual impactante. A estética única de Metaphor combina elementos de fantasia clássica com uma paleta de cores ousada e um design artístico que certamente ficará na memória dos jogadores.
Sistema de Combate
Para aqueles que têm preconceito com combates por turno, Metaphor prova que esse estilo ainda pode ser dinâmico e envolvente. O sistema de combate é similar ao de Persona, mas com melhorias que tornam as batalhas ainda mais ágeis e satisfatórias. Os combates contra inimigos comuns são rápidos, o que mantém o ritmo do jogo sempre fluido. No entanto, as batalhas contra chefes são um verdadeiro desafio, exigindo estratégia e preparação cuidadosa.
Um diferencial interessante é a possibilidade de derrotar inimigos no mundo aberto sem entrar no combate por turno, por meio de ataques de ação direta. Ainda assim, o jogo recompensa os jogadores que optam pelas batalhas táticas, oferecendo mais recursos e itens raros para aqueles que se dedicam a explorar todas as camadas do combate.
Os arquétipos desempenham um papel importante na evolução dos personagens. Similar ao sistema de “Personas”, os arquétipos permitem que você atribua habilidades e poderes específicos aos membros da equipe, permitindo uma customização profunda de estratégias de combate. A liberdade para combinar habilidades e arquétipos entre os personagens cria um espaço enorme para experimentação, e cada batalha se sente única graças a essa flexibilidade.
Música e Trilha Sonora
A trilha sonora de Metaphor é mais uma obra-prima de Shoji Meguro, mas desta vez, o compositor abandona o tom pop vibrante de Persona em favor de algo mais sombrio, épico e até religioso. O uso de corais e melodias orquestrais dá uma sensação de grandiosidade ao jogo, e as músicas são memoráveis a ponto de você se pegar cantarolando seus temas repetidamente. A trilha complementa perfeitamente o tom do jogo, elevando ainda mais a experiência imersiva.
Conclusão
Metaphor: ReFantazio é, para mim, a maior surpresa do ano até agora. Desde o anúncio, fiquei intrigado, mas também apreensivo com a mudança de foco para um cenário de fantasia. No entanto, em uma época em que a originalidade parece cada vez mais rara no mundo dos games, especialmente com tantas empresas apostando em remakes, Metaphor é um sopro de ar fresco. O jogo prova que ainda há espaço para inovação, e que a fantasia, tanto no conteúdo quanto na forma, está longe de estar morta.
Com sua história envolvente, sistema de combate desafiador e uma direção artística de tirar o fôlego, Metaphor: ReFantazio é, sem dúvida, o meu jogo do ano até o momento. Vai ser difícil encontrar outro título que o supere.
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