Super Mario Wonder – Review

“Mais um Mario?” é o que se costuma ouvir de quem não é fã da Nintendo e, consequentemente, não gosta de Super Mario. A indagação claramente vem de uma certa ignorância quanto ao que realmente é Mario. Afinal de contas, o mascote da Nintendo (e o maior dos videogames, convenhamos) aparece em tudo quanto é tipo de jogo, desde os de plataforma até os de esportes e os party games.

Para quem conhece, sabe que não temos um Super Mario 2D, aos moldes do primeiro Super Mario Bros., de 1985, desde 2012, com Super Mario Bros. U, lançado ainda no Wii U (e com um port para o Nintendo Switch, como quase tudo do console). Quanto a mim, fico feliz por poder me aventurar em mais um Super Mario em 2D com Super Mario Wonder.

Maravilhas e tragédias no Reino das Flores

Super Mario Wonder começa com uma historinha um tanto quanto longa demais para um jogo do Mario. Talvez eu seja velho demais e talvez até tenha nostalgia demais, mas a história do jogo mais atrapalha do que ajuda. Muita interrupção por parte do Príncipe Florian, que segue Mario (ou outro personagem escolhido) pelas áreas do jogo, e de demais NPCs espalhados pelo caminho. A conversa normalmente é simplória e não adiciona nada de substancial. Sim, Bowser virou um castelo que está atormentando a estrutura do Reino das Flores e é desnecessário que a todo momento sejamos lembrados disso ou com dicas de como prosseguir.

Por outro lado, temos uma adição muito interessante, que são as flores que falam durante as fases. Justamente porque cumprem seu papel de incentivo, dando sempre um reforço positivo ao jogador, o que deve impactar especialmente crianças. E o melhor de tudo: elas não interrompem o gameplay, ou seja, elas falam com o jogador enquanto o mesmo corre e pula pela fase. E muitas vezes a fala é engraçada e a dublagem (sim, dublagem em um jogo do Mario para além dos WAHOO! de sempre) em português (sim, em português! Do Brasil!) ajudam a dar um charme a mais para o jogo.

Por favor, vossa alteza… Me deixe jogar.

O Maravilhoso Mundo do Príncipe Florian

Super Mario Wonder possui um mundo que mescla elementos já conhecidos desde Super Mario Bros. 3 (NES), com um overworld servindo de hub para entrar nas fases. A liberdade para se andar por esses mundos também remete a Super Mario 3D World (Wii U). Não é o melhor tipo de mundo criado em um um jogo do Mario: Super Mario World (SNES) segue sendo sem igual nesse sentido. Não há tantos segredos escondidos pelas fases, tantos caminhos diferentes, não há blocos desbloqueáveis em Super Mario Wonder.

O que existe é uma certa liberdade e caminhos bifurcados. Não se exige que se passe de todas as fases em um mundo para que o chefe fique disponível. Toda fase comum de Super Mario Wonder possui pelo menos duas Sementes Fenomenais, que servem para abrir caminhos e também liberar o castelo, que possui o chefe e guarda a Semente Magna, que serve para reduzir o poder do Bowser Castelo, o inimigo final do jogo, tornando-o cada vez mais vulnerável.

É interessante notar que não há fases somente nos mundos, mas também no Arquipélago que dá acesso a eles, que funciona como um hub world, interligando tudo.

Um dos mundos de Super Mario Wonder.

Inspirações e novidades

Os desafios propostos em Super Mario Wonder vão além de fases comuns. Temos também corridas contra um Wiggle patinador, desafios de insígnia e passatempos. Isso tudo contribui para que o jogo sempre esteja mostrando algo novo e diferente. Assim como em jogos anteriores da franquia, Wonder não decepciona na variedade, com as ideias nunca se repetindo. Tudo é muito único e novo, ao mesmo tempo que traz uma identidade muito própria da série.

Super Mario Wonder, no entanto, não pega influências somente dentro da própria franquia. Há muito claramente inspiração em Donkey Kong Country, série também da Nintendo, em especial nos títulos da Retro Studios, para Wii e Wii U (Returns e Tropical Freeze). Estas influências estão em fases onde somente aparecem as sombras das plataformas, inimigos e dos personagens jogáveis, bem como em outras onde perigos como raios e choques elétricos ocorrem. Isso é mais comum nos títulos do macacão da Nintendo do que nos do encanador. Dá super certo, no entanto, tornando as fases mais robustas. Por outro lado, acaba quebrando um pouco o ritmo mais acelerado de Super Mario, visto que as fases que possuem inspiração mais direta em DK acabam sendo mais cadenciadas.

Além disso, em todas as fases temos o gimmick do jogo, que são as Flores Fenomenais. São o charme do jogo, facilmente, e dão uma dinâmica excelente. Ao coletar uma delas (presente em toda fase comum), qualquer coisa pode acontecer: O cenário mudar, o jogo passar a ser com uma visão de cima, Mario se tornar uma geleia que gruda na parede, inimigos começam a dançar uma música cativante… Enfim, essas flores mudam o paradigma das fases e se tornam uma obsessão para qualquer um que esteja engajado em Super Mario Wonder.

Uma chuva de super estrelas? Só pode ser o resultado de uma Flor Fenomenal!

Insígnias e Power Ups

As novidades não param nas Flores Fenomenais (mas, se parassem, já seria suficiente para tornar o jogo muito fenomenal). Temos novos power ups e também a adição de insígnias.

O marketing do jogo focou bastante no power up do elefante, que deixa Mario maior, mais gordinho e com uma tromba. Sinceramente, só é bonitinho, porque não tem nada de muito substancial além de poder carregar água para obter alguma coisa de plantas que precisam ser regadas pelas fases. Outros poderes novos são uma flor que faz o Mario soltar bolhas, que podem servir de plataforma e matam inimigos, e de uma broca, que faz o personagem poder entrar no subsolo e dentro do teto das fases, alcançando alguns locais.

Super Mario Elefante.

Os novos power ups se limitam a estes, e são simplórios. Em especial quando pegamos o histórico da série, com a Pena (Super Mario World) e a Folha (Super Mario Bros. 3), que adicionavam um design vertical pelas fases, com segredos e atalhos escondidos nas nuvens, alcançados pelos jogadores mais habilidosos. De power up antigo, temos a volta da sempre presente flor de fogo, que é o melhor do jogo.

Além dos power ups, temos a adição de insígnias, que são obtidas nas lojinhas dos Poplins (em troca de moedas especiais do reino do Príncipe Florian) ou em desafios. São muitas diferentes, com uma fazendo o jogador correr pela fase sem parar e atingir enormes velocidades, outra fazendo o jogador poder dar um salto a mais quando apoiado em uma parede. Há ainda outras de auxílio, como um radar que informa a localização de segredos, ou já começar com um Super Cogumelo. O conceito é interessante, porém a maioria tem usabilidade limitada nas fases e serão usadas apenas uma vez, no próprio desafio da insígnia, pois são inúteis.

Wonderful, Wunderbar, Maravilloso, Fabuloso

Super Mario Wonder possui uma linda direção de arte. Tudo é muito colorido e fantástico visualmente falando. Os inimigos possuem bom design e são bem animados e não há nada genérico nas fases, o que era uma característica da série New (exceto com o título do Wii U, que já trazia um frescor de ideias).

Musicalmente, o jogo brilha com composições animadas e algumas de mistério. Várias fases possuem um componente rítmico, talvez com inspiração em Rayman Legends (mas muito melhor implementado). A adição de dublagem em português nas flores, como já dito, é um ótimo indício para os jogadores brasileiros.

Tecnicamente, o jogo é impecável no Nintendo Switch, rodando a 60 quadros por segundo, o ideal para um jogo de plataforma que requer precisão. Apesar da simplicidade de um jogo em 2D ajudar o Switch rodar de forma satisfatória o jogo, o correto a se fazer é parabenizar a Nintendo, pois é muito colorido e o fundo das fases também muitas vezes está em movimento, ajudando na imersão no mundo fabuloso de Super Mario Wonder.

Explosão de cores

Super Mario Fabuloso

Não é exagero dizer que Super Mario Wonder é o melhor Super Mario Bros. desde World. O jogo apresenta ideias novas em uma série que muita gente torce o nariz por aparentemente ter muitos jogos. O novo título é apenas o 15º jogo da série de 38 anos de idade. Há séries mais novas com mais títulos que não recebem o mesmo desdém de quem não gosta ou não se importa com a franquia.

O maior símbolo dos videogames merece ser lembrado sempre, e em sua fórmula original e consagrada. Super Mario Wonder faz bonito e entrega tudo o que um fã da série pode esperar, mesmo com alguns probleminhas aqui e ali. Divertido e variado, o jogo nos faz lembrar por que a Nintendo, com todas as suas controvérsias, segue sendo relevante em 2023.

Professor de História / Jogador de videogame nas horas vagas / Escritor de textões pela internet
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