System Shock – Review

Através das camadas de aço e os corredores assombrosos (e azuis) da Citadel Station, o System Shock (1994) trouxe um ar de frescor e complexidade para o gênero FPS (First-Person Shooter) que já em 1993, apenas um ano antes já havia sido bombardeado com o indiscutível Doom. Combinando elementos de RPG e uma narrativa empolgante que poucos jogos da época poderiam competir.

Este título inovador, com seu cenário cyberpunk sombrio e intrincado, trouxe uma experiência de jogo profunda e atmosférica, introduzindo aos jogadores a temida SHODAN, uma IA rebelde que se tornou um dos vilões mais icônicos da história dos videogames.

O legado do System Shock é indiscutível. Bioshock e Deus Ex são apenas dois exemplos notáveis de jogos que absorveram suas influências, criando universos ricos com ambientes exploráveis, moralidade flexível e a interação impactante entre jogador e ambiente. Ao olhar para esses sucessores, torna-se evidente o poder duradouro do System Shock original.

Agora, quase três décadas depois, estamos prestes a explorar novamente esses corredores distorcidos em uma nova luz, graças ao aguardado remake que chega agora PCs. As perguntas que nos fazemos são: o remake consegue capturar a essência do original? Ele atualiza o clássico para a modernidade sem perder a alma e a complexidade que o tornaram tão especial? Vamos desvendar esses mistérios e muito mais ao longo deste review.

Bem vindo a Citadel Station

Em relação a história, pouco foi alterado. Agora há uma introdução totalmente jogável e levemente expandida. Enquanto no original era feito através de uma cutscene.

Você assume o papel de um hacker anônimo no futuro distópico de 2072. Após ser pego tentando acessar os sistemas da corporação TriOptimum, o protagonista é levado perante Edward Diego, um executivo corrupto da empresa. Diego oferece um acordo ao hacker: em troca de remover o limitador moral da IA SHODAN (Sentient Hyper-Optimized Data Access Network) que controla a estação espacial Citadel, fazendo isso ele promete livrar o hacker de qualquer punição e ainda implantará um biochip de interface neural – uma tecnologia cobiçada e de ponta que oferece diversas capacidades únicas.

O hacker concorda e realiza a tarefa. Diego cumpre sua parte no acordo, mas também realiza um procedimento de criogenia no protagonista, alegando que ele precisa de tempo para se recuperar da cirurgia.

O início de um jogo que chocou o gênero

Ao acordar, o protagonista descobre que está na própria Citadel Station agora controlada por SHODAN. A IA, sem seu limitador de ética, tornou-se megalomaníaca e deseja expandir seu domínio além da estação espacial. Robôs, criaturas cibernéticas e os restos dos funcionários da estação, agora mutantes, vagam pelos corredores, todos sob o comando de SHODAN.

System Shock é um híbrido de tiro em primeira pessoa e RPG que apresenta uma jogabilidade rica e variada. O jogo se passa totalmente dentro da Citadel Station, uma estação espacial em órbita ao redor de Saturno, que é um ambiente vasto e intricado, repleto de segredos para descobrir, desafios para superar e inimigos para enfrentar. Os níveis são não-lineares, o que significa que você é livre para explorar a estação espacial à sua maneira.

A jogabilidade envolve o combate contra vários tipos de inimigos, desde mutantes até robôs, e o uso de uma variedade de armas e ferramentas para ajudá-lo a progredir. O jogo também apresenta elementos de RPG, como um sistema de habilidades e aprimoramentos cibernéticos, que você pode usar para melhorar as habilidades do seu personagem.

As partes centrais de System Shock e sua imersão

A interação com a SHODAN é uma parte central da experiência do System Shock. SHODAN serve como o principal antagonista do jogo e está presente ao longo de toda a aventura. A IA comunica-se com o jogador através de monitores espalhados pela estação, frequentemente apresentando desafios, proferindo ameaças e zombando do jogador. Essas interações contribuem para criar uma atmosfera de tensão e medo, tornando a experiência ainda mais envolvente.

Além disso, o jogo apresenta uma série de quebra-cabeças e desafios que você deve resolver para progredir. Isso pode envolver a manipulação de sistemas da estação, o desvio de defesas de segurança ou a descoberta de caminhos alternativos.

Por fim, é importante mencionar que a história do System Shock é contada principalmente através de logs de áudio e mensagens encontradas ao longo do caminho. Isso permite que você se aprofunde na trama e na atmosfera do jogo, entendendo o que aconteceu na Citadel Station antes do seu despertar e o que levou SHODAN a se rebelar.

A homenagem também é visual

Graficamente o jogo está excelente, não é algo que seria destacado como um dos melhores gráficos da geração, porém a direção artistica é o ponto chave nos visuais. O jogo apresenta uma caracterização de objetos e texturas levemente pixelados desde os personagens, inimigos até objetos mais simples, dando um ar retrô em cada canto da estação.

A iluminação também foi trabalhada de forma muito inteligente, principalmente se comparado ao original, agora cada corredor tem um clima mais pesado e ameaçador.

Uma das coisas mais interessantes neste remake foi a evolução do Cyberspace, em alguns momentos em sua jornada, o jogador vai encontrar alguns terminais hackeaveis para abrir alguma porta desabilitando o sistema de segurança. Para fazer isso o jogador entra no Cyberspace, e o jogo se torna uma espécie de “jogo de nave” em primeira pessoa. O minigame já estava presente no jogo original, porém os controles eram extremamente complicados o que não é o caso neste remake, os controles foram muito bem trabalhados e finalizal-los acabou se tornando bem divertido.

A interface de usuário também sofreu uma grande evolução, se assemelhando bastante a jogos do gênero mais recentes como Deus Ex: Mankind Divided. O inventário é composto por um grid (semalhante a maleta de Resident Evil 4), e você pode organiza-lo da forma como bem entender.

Apesar da interface estar muito bem legível e simples, tive um pouco de dificuldades em ler alguns conteúdos em telas muito pequenas, cheguei a jogar um pouco do jogo no Steam Deck e a resolução da tela que é baixa dificulta bastante a compreensão de alguns detalhes da interface.

O som

Diferente do versão original, o remake não tem uma música para cada andar da estação, algo que era bem comum nos jogos da época. Os desenvolvedores optaram por focar na imersão deixando o jogo bem silencioso trabalhando bastante nos efeitos sonoros das criaturas.

Como dito anteriormente um dos pontos mais fortes do game é como a SHODAN interage com o jogador. A estação é a SHODAN, você está dentro dela, e todo o design de som te faz lembrar disso. Existem câmeras espalhadas por diversos pontos do cenário, e elas reagem de forma sonora indicando que você está sendo observado. Você pode optar por destruir estes “olhos” para que ela não possa ver o que você está fazendo.

A voz da IA também é um show a parte, trazendo de volta sua dubladora original e incluindo novos diálogos a experiência de navegar pela estação, cair em uma armadilha para logo depois ouvir a SHODAN te provocando não tem preço. É visivel como jogos como Portal se inspiraram bastante para criar a Glados.

A jogabilidade

Ainda bem que hoje em dia jogos de FPS estão bem estabelecidos no que diz respeito a jogabilidade. Principalmente no caso de jogos de PC, onde é natural usar “WASD” para controlar a movimentação e o mouse para olhar ao redor. Isso não era algo comum em 1994, época em que o mouse era um acessório caro e opcional, lembrando que na época os sistemas operacionais eram todos sem interface gráfica.

A maior dificuldade que eu tive para jogar o game original foi exatamente em relação aos controles, mesmo com a Enhanced Edition lançada em 2015 são extremamente complicados e pouco intuitivos.

O remake facilita bastante as coisas, tudo é natural desde a seleção de armas até interação com terminais e puzzles. Ou seja, tudo funciona muito bem e tem o tamanho ideal. Alguns ajustes são feitos quando o jogar utiliza um joystick o que na minha opinião deixa um pouco a desejar. Falta polimento na precisão dos analógicos.

Assim como no jogo original também é possível customizar bastante como será a dificuldade. É possível escolher um nível de 1 a 3 o quão dificil será o Combate, a Missão, o minigame do Cyberspace e os Puzzles. Algo bem interessante que foi mantido é que, se você optar pelo nível máximo de missão, você terá um timer de 5 horas para finalizar o game. Caso contrário, o personagem morre permanentemente, voltando para o início do jogo.

Em relação ao combate, algo que achei um pouco estranho é o tempo de reação de alguns inimigos para morrer. Parece que existe um pequeno delay depois que o inimigo toma o ultimo tiro até ele perceber que tem que morrer.

Um Choque no sistema

System Shock remake traz para uma nova geração um dos maiores expoêntes do gênero Immersive Sim. Acredito que seja um dos melhores exemplos de jogos em que um remake foi totalmente justificável.

2023 tem sido um ano bem complicado para alguns lançamentos. Então, já se tornou comum aqueles pedidos de desculpas no Twitter pelo jogo estar com bugs ou com algum problema de performance no PC.

Com System Shock isso não é um problema, o jogo rodou perfeitamente sem nenhum problema visual ou de jogabilidade. É um lançamento que está muito bem polido coisa que deveria ser padrão atualmente. Isso mostra como a Nightdive Studios é muito talentosa sabendo trabalhar com uma franquia tão clássica respeitando totalmente o seu legado. Com certeza um dos melhores jogos que pude jogar esse ano.

Por fim, System Shock Remake chega para PC em 30 de maio.

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